quarta-feira, 12 de março de 2008

Entrevista com Black Belt Senador da República Arthur Virgilio Neto




O senador Arthur Virgilio Neto iniciou no judô com o professor Haroldo Brito quando se mudou com sua família para o Rio de Janeiro, quando esta ainda era sede da República. O senador passou também pelas mãos do Oswaldo Alves, de Reyson e Rolls Gracie, dos irmãos João Alberto e Álvaro Barreto e George Medhi.

"O Reyson é um dos homens mais corajosos que já ví em toda a vida. Quando fui aluno dele, passei a fazer jiu-jitsu sistematicamente e tenho também muitas lembranças da imagem do Carlson, que era considerado um verdadeiro herói na minha geração", declarou o senador. Ele declara ainda que adora visitar academias em todo o Brasil para treinar com pessoas novas.Outro fator que o atraiu muito para este esporte foi à saga dos mestres Carlos e do nosso querido Hélio. No início, o senador pensava em ser apenas um conhecedor da arte suave, porém acabou descobrindo uma de suas maiores paixões: o jiu-jitsu.

RG – O senhor tem algum ídolo no esporte?
AV - São vários ídolos. No Boxe, é o Ali, seguido de perto pelo "Sugar" Ray Robinson. No futebol, é o Zico; sou flamenguista roxo. No jiu-jitsu é o Rickson e sempre será o Rolls. No Vale-Tudo, atualmente, o Rodrigo Minotauro, que é forte como um pesado e técnico como um excelente leve ou médio. No basquete, é o Michael Jordan. E por aí vai.

RG – Como poderíamos comparar um político faixa preta de jiu-jitsu com um que não o seja?
AV - Tem muita gente na vida pública que fez - ou faz - outros esportes e que é, sem dúvida, valorosa. E tem gente que nem é do esporte e, apesar disso, mostra as qualidades morais e psicológicas muito comuns no nosso meio. São pessoas "faixa preta" em decência, coerência e bravura.Agora que o jiu-jitsu me dá um up grade, nem se duvide disso. Uma das minhas características é não atacar por trás, não faltar à palavra empenhada, não chutar quem está desamparado no solo e nem todo mundo é assim.

RG – Fale um pouco sobre a sua relação com a luta.
AV - Meu amor pelo jiu-jitsu é inesgotável. Sou fanático mesmo.
Na juventude, lutava; na maturidade, vejo filmes, converso com os amigos, compareço a eventos, vou enfim, matando as saudades.

RG – Como o senhor é visto no governo por ser um lutador de jiu-jitsu?

AV - Aqui em Brasília, de vez em quando os jornalistas inserem essa questão da luta em entrevistas, sempre, aliás, que a entrevista é do tipo "perfil". Falam que sou - ou fui - lutador. Quando perguntam, digo que sim. Quando perguntam detalhes, desconverso.
O Governo sabe que nada me intimida. E que sou um adversário leal. Outro dia, o Senador Tasso Jereissatti me disse: "Vi um cara igual a você, no Jungle Fight, ao lado do Senador Antoni Inoki". Como ele é um grande amigo, confirmei que era eu mesmo e que estava ali a convite do Wallid Ismail que é meu "irmão" mais novo.Se tivesse sido outra pessoa, eu até teria negado. Ou seja, nunca me prevaleci do jiu-jitsu para nada. Ele está dentro de mim e faz parte das minhas ações e ponto final.

RG – De que forma o jiu-jitsu influencia a qualidade de vida e a sua profissão?
AV – Em relação ao trabalho, o jiu-jitsu faz com que eu vá para a luta eleitoral, no Plenário, com garra, com disposição máxima. Cuido da questão pública com dedicação integral. O esporte faz com que eu seja uma pessoa competitiva, determinada, capaz de enfrentar e vencer as adversidades. Os dias são duros. Muita gente começa bem e vai cansando com as horas. Eu, não; nós do jiu-jitsu, certamente não.No capítulo qualidade de vida, o esporte é fundamental: dá resistência, eleva a taxa de amor próprio, descansa a cabeça e sedimenta as amizades mais verdadeiras e desinteressadas.

RG – O estado do Amazonas é um dos maiores celeiros de lutadores atualmente do jiu-jitsu. Será que isso se deve em relação ao incentivo do Governo?
AV - Modéstia à parte, começou comigo, há mais de 30 anos. Logo a seguir, levei o Reyson para lá e ele consolidou o sentimento dos jovens pelo jiu-jitsu. Hoje, o grande ídolo é o Oswaldo Alves, que exerce forte liderança sobre a juventude.
A Prefeitura de Manaus e o Governo estadual ajudam, mas poderiam fazer mais e de forma mais organizada e sistêmica. Com tudo isso, o fato é que o Amazonas é, depois do Rio de Janeiro, a 2ª potência mundial em jiu-jitsu.
Cometeria uma injustiça se esquecesse, no Amazonas, o Aly Almeida e o atual Juiz de Direito Luis Carlos Valois, o "Caco", como precursores também de tudo que o jiu-jitsu é hoje na minha terra.

RG – A arte marcial tem como objetivo doutrinar e socializar o indivíduo. O senhor acredita que o jiu-jitsu, uma arte genuinamente brasileira, possa ser integrado na educação das escolas públicas?
AV - A meninada só teria a ganhar. Poucas coisas podem influenciar tão positivamente a juventude quanto o esporte, em geral, e o jiu-jitsu, em particular.

RG – E em relação às forças policiais?
AV - Também. Um policial com conhecimento de jiu-jitsu haverá de ser ainda mais bravo na ação e muito comedido, após a ação. Ou seja, não consigo ver um faixa preta de verdade torturando alguém. Assim como acho que ele seria controlado e decidido, ao mesmo tempo, portando uma arma.
Uma vez, fui com o Carlson à Academia que ele manteve, na Tijuca, por algum tempo, com o falecido Walter Guimarães. Estava fora de forma, fui para ajudá-lo a dar aulas e treinar com os "cascas grossas" do local.Fui de faixa branca, como gostava de fazer quando não estava em forma. No treino, um policial forte, de temperamento atrevido, começou a implicar com meu cabelo, que era comprido, e com tudo em mim.
A raiva dele era tanta, que nem percebeu que eu tinha puxado o aquecimento, por ordem do Carlson.Pois bem! Na hora do treino livre, o Carlson, muito malicioso, perguntou quem ele escolhia para treinar. Não deu outra: o cara escolheu o "cabeludo" da Zona Sul, que ele via como um playboy talvez incapaz da destreza física.
E lá fomos nós. Em 5 minutos, eu o fiz bater em pé, na parede, no chão, de todo jeito. E vi ele interpelar o Carlson: "pô, Carlson, que porra de faixa branca é esse?" E o mestre respondeu com sabedoria: "quem te disse que ele é faixa branca? O simples fato de você usar a faixa preta não te faria um verdadeiro faixa preta. Falta muito para você. E como você o chateou muito, a resposta veio na hora em que ele teve condições de dá-la".
Imaginem vocês o que esse rapaz não faria comigo se eu fosse um preso dele, desarmado, desamparado. Ele ia me humilhar de todo jeito. E eu lhe dei uma lição sem humilhá-lo. Ouvi os insultos dele calado e, depois do combate, continuei no meu canto.
Logo, o jiu-jitsu faria bem, igualmente aos responsáveis pela ordem pública, sim senhor.

"O jiu-jitsu dá sentido de honra as pessoas. Levanta o amor próprio. Ensina lições de generosidade".

"Tenho um sonho que é competir no Senior, de kimono, e fazer um pouco de Submission também, enfrentando gente alguns anos mais nova".

"Quando sou vítima de uma traição, lá vem outra vez o condicionamento do jiu-jitsu a me fazer dar a volta por cima e recomeçar o combate".

"Acho que dentro de 10 anos, as bolsas do Vale-Tudo valerão mais que as do Boxe Internacional. E estou seguro de que o Brasil, grande "produtor" de samurais, haverá de valorizar, cada vez mais a chamada Mixed Martial Art".

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